segunda-feira, 30 de julho de 2012

Toda velhice será castigada com a redução brutal dos benefícios da Previdência

A falta de vontade política e acordos espúrios já nos levam a pagar duas vezes para aposentadoria



“De resto, o que é que nos faz velhos? Não é a idade, são as doenças”.


Alexandre Dumas, romancista francês, autor de “Os Três Mosqueteiros”




Anote aí: muito em breve, o regime público de aposentadorias e pensões será reduzido ao que não puder ser eliminado. E para os lobistas da previdência privada tudo pode ser eliminado, desde que a opinião pública seja induzida a acreditar que aposentados e pensionistas são os sanguessugas dos cofres públicos, como se suas contribuições por toda a vida não cobrissem as despesas que dão quando se tornam inativos.

Apesar de seguidas “reformas” que já nos submeteram à tortura e ao castigo, atingindo principalmente os servidores públicos, tem mais bala na agulha: já está fechado o projeto que vai acabar com as pensões. Isso mesmo, agora a pensionista é a bola da vez: a primeira idéia é impedir que a viúva (ou viúvo) receba como aposentada pelo que foi descontada em seu salário e como pensionista pelo que o cônjuge foi descontado.



Veja quanto cinismo: se o marido trabalha e a mulher, não – da sua contribuição poderia sair o dinheiro da pensão. Mas se o outro também trabalha e também contribui, aí no caso da morte de um e de sua aposentadoria teria que optar por um dos benefícios.Qualquer aluno do primário sabe que essa matemática é fajuta.




Não é um argumento sério, não é uma “solução” lógica, mas é o jeito mais hipócrita de levar os brasileiros a engrossarem os fundos privados complementares, que de tanto faturarem vão transformar em complementar a previdência pública.



O diabo é que quando se fala em garfar benefícios de aposentados, os da ativa pensam que isso não lhes diz respeito. E, ironicamente, serão eles os grandes perdedores, aqueles que terão de pagar duas previdências, como já acontece com 40 milhões de brasileiros que pagam impostos para a saúde e, ao mesmo tempo, morrem numa grana preta nos planos privados.



O discurso de que é preciso refazer as contas da previdência pública vem numa escalada voraz. No fundo, no fundo, tudo o que se quer é carrear contribuintes para os fundos privados, que atraem quem quer viver com mínimo de dignidade na velhice, cobrando taxas administrativas exorbitantes.



É como se tudo tivesse sido negociado. E foi. A destruição da previdência pública será engolida pelas lideranças classistas com a promessa de que o governo facilitará a criação de sistemas próprios nos sindicatos e, principalmente, nas centrais sindicais, à semelhança do que acontece nos Estados Unidos, onde a máfia controla poderosas centrais, como a dos transportes, através dos seus planos de aposentadoria.



A memória curta é uma praga que faz a festa dos especuladores. Poucos se lembram das arapucas montadas durante o regime militar. Milhões de brasileiros foram induzidos a comprar planos de entidades como Montepio da Família Militar, Capemi, Goboex e outros que usavam o lastro dos quartéis para oferecerem aposentadorias mirabolantes aos incautos. E olha que naquele tempo não havia a desculpa do suposto déficit previdenciário. Antes, pelo contrário: robusta, a Previdência mandou dinheiro para a construção de Itaipu e da Ponte Rio-Niterói, entre outras generosidades que agora sobram pra gente pagar.



Hoje o mote é culpar os idosos porque estão vivendo mais. Na impossibilidade de declarar mortos os maiores de 70 anos, ou de executá-los pelo crime de “durarem mais da conta”, os matemáticos de encomenda acenam com o risco de falência da Previdência Pública se não reduzirem seus benefícios, nivelando os aposentados por baixo ao salário mínimo e extinguindo as pensões.



A tendência é reduzir ao mínimo os benefícios previdenciários, gerando mais uma bitributação para as classes assalariadas, que passam a poupar diretamente nos planos de previdência privada. Esta passou a ser o filé mignon dos bancos, porque numa primeira fase só representa faturamento.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pedágio da Linha Amarela é questionável, extorsivo e custeado por apenas 20% dos usuários

Poucos pararam para pensar, mas a Linha Amarela foi até hoje a única via urbana a cobrar pedágio em todo o país. Com 15 Km de extensão, tem o custo de R$ 9,40 (ida e volta) pago apenas por quem vai e volta da Barra ou Jacarepaguá. A Linha Vermelha, que tem 21 Km e vai até São João de Meriti, na Baixada, com um longo trecho sobre o mar, não tem pedágio. A Ponte Rio-Niterói, 13 km sobre o mar, custa R$ 4,60 só na ida. A volta é liberada.


Segundo cálculo bem fundamentados, hoje 450 mil veículos usam a Linha Amarela diariamente. A conta vai apenas para os 90 mil que atravessam o túnel (esses números se referem à ida e volta) e isso, no entendimento de muitos advogados configura violação do princípio da isonomia. Até janeiro deste ano não existia legislação nenhuma sobre pedágio urbano – essa cobrança foi imposta exclusivamente no Rio de Janeiro em condições excepcionais. Segundo o comerciante Luiz Pereira Carlos, que passou vários anos batendo em todas as portas para demonstrar sua ilegalidade, nem mesmo o alvará de funcionamento da via expressa (que não é tão expressa assim) autoriza a cobrança do pedágio.


Desde a sua concepção, ficou claro que custo de sua manutenção é superfaturado e teria que recair sobre parte dos usuários, pois seria impraticável imaginá-la sem os acessos que tem, até porque muitos dos que pagam não vão necessariamente até o seu final. Seria complicado igualmente ter mais de uma praça de pedágio, como se imaginou originalmente.


Independente das irregularidades na construção que favoreceram à construtora OAS (Conforme comprovou uma CPI da Assembléia Legislativa) , cabe lembrar que a previsão original do pedágio era de R$ 1,00 (equivalente então a U$ 1,00), com expectativa de 50 mil veículos-dia. No entanto, antes mesmo de ser aberta ao tráfego, teve sua tarifa elevada para R$ 1,60, isto no momento em que a Prefeitura passou a custear 48% da obra do lote 2, que inclui os túneis da Covanca e da Pedreira, e a pagar por sua conta todas as despesas de desapropriação de imóveis.


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domingo, 24 de junho de 2012

Caiu porque não era do ramo

Lugo e Franco, seu vice, uma aliança de inconveniências



Mesmo sendo tudo muito rápido, o ex-bispo paraguaio não precisava entregar os pontos sem espernear


"O que existe, sim, é parte do exército norte-americano que faz ações humanitárias, e também exercícios militares, mas nós, paraguaios, negamos que haja uma base militar que possa operar a partir do Paraguai e agir nos países vizinhos do continente".
Fernando Lugo, depois de eleito em2008



Bem feito. O ex-bispo Fernando Lugo foi deposto pela mesma súcia com que partilhava coquetéis e quitutes, numa jogada de mestre de efeitos colaterais ameaçadores. Depois do xeque-mate paraguaio, a especulação política já quer saber quem será o próximo nesse tabuleiro de torpezas mil.


Porque a fórmula do golpe parlamentar deu certo, deixando os militares no chinelo. Ao prelado não lhe ocorreu que os inimigos não mandam flores. E que nessas horas não adianta pedir ajuda a Deus.

Ou se faz o jogo das vontades insaciáveis dos canalhas ou se recorre à turba. E ele não fez nenhuma coisa, nem outra. Daí servir o prato cheio para a trama tão bem montada, que grileiros e traficantes celebrados em palácios usaram como pretexto logo o massacre de sem-terras, coisa a que se dedicam secularmente, como se de repente eles, titulares de uma indomável capangada, estivessem indignados com as mortes dos pobres coitados.

Tudo foi milimetricamente planejado e aconteceu no Paraguai porque lá é o Paraguai dos produtos falsificados. Não adianta xingar os personagens do golpe, nem lembrar que, para variar, estava por trás o falso brilhante do Obama e seus miquinhos amestrados.

Não adianta porque o ex-bispo é antes de tudo um fraco. Talvez, quem sabe, sua anemia crônica fizesse dele um trapo. Faltou-lhe a garra do Francisco Solano Lopez, faltou a coragem necessária para se trancar no Palácio e pedir ajuda ao seu povo, que, salvo uma minoria de 5 mil inconformados, não se deu conta do péssimo exemplo que seus valhacoutos ofereciam ao mundo, em especial ao Continente, numa alusiva insinuação de que certos sociais-democratas são bolhas de sabão.

Pelo resultado arrasador das votações na Câmara e no Senado, viu-se que Fernando Lugo já estava na corda bamba no antro fétido dos podres poderes da Nossa Senhora Santa Maria de Assunção, a capital de 520 mil habitantes controlados por mafiosos de carteirinha.

Ele sabia que dormia com o inimigo, mas esperou em Deus que respeitassem seu mandato, conquistado numa surpreendente metamorfose da dicotomia guarani, onde não existe essa de direita e esquerda: os políticos daquelas bandas são bandos de malfeitores muito menos recatados do que os militares, apesar da base norte-americana no povoado General Estigarribia, província de Boquerón, no noroeste do Paraguai, cuja existência Lugo sempre negou, alegando que operava ali apenas parte do Exército dos EUA dedicada a "ações humanitárias".

Esperou por um Deus que continua sendo usado na maior pelas classes dominantes. Pois o pretenso representante do Senhor, o come-e-dorme cognominado "núncio apostólico" foi o primeiro a ir apertar a mão do Judas que tomou o seu lugar, num apressado ato pecaminoso que faz lembrar o Vaticano de Cesar Bórgia.

Ao que parece, e tudo indica, Lugo foi preferido pelos golpistas por seu estilo de padre bondoso. Tanto que nem estrebuchava com o Estado paralelo que o contrabando e o narcotráfico montou por lá com a ajuda das multinacionais que descarregavam na Cidade do Leste e outras mais os produtos rejeitados pelo controle de qualidade das matrizes.

Também foi omisso ante a conivência de uma tropa que está associada ao crime, dando-lhe a cobertura armada e assegurando o fluxo de drogas e quinquilharias para a vizinhança de sacoleiros e mulas num entreposto montado a céu aberto.

Sua atuação não era de um líder, mas de um pretenso messias forjado nos púlpitos da santa madre igreja. Enquanto Chávez, Evo e Rafael Correa disparam seus talentos quixotescos no fomento de uma auto-estima patriótica, enquanto Dilma e Cristina mordem e assopram, mas têm o apoio incondicional do populacho, ele se deixou abater pelas baixarias a respeito de suas peraltices extra-clericais e se aceitou refém de um jogo de interesses que o suprimiu quando já estava mal das pernas.

É besteira comparar esse golpe consentido com o de Honduras, onde o fazendeiro Manuel Zelaia foi deposto pelo Exército com a chancela do Judiciário e do Congresso.Zelaia caiu, é verdade, mas caiu de pé, com aquele chapéu e aquele bigode trançados com a resistência que deu muito trabalho aos golpistas.

Pode até ser que a má notícia dada enquanto fieiras de chefes de Estado passeavam pelo Rio de Janeiro, por conta da suposta preocupação com o meio ambiente, encontre seu antagonismo do lado de fora da fronteira.

Seus vizinhos sabem que em cada salão iluminado há sempre um golpista de plantão, a serviço do crime econômico, com dólares doados para manter seus países como quintais da velha potência hoje abatida pela impotência senil.

Mas e daí? Os vizinhos vão pegar o ex-bispo no colo para levá-lo de volta ao poder que entregou na maior passividade, num rito sumário inusitado e sob pretextos indecentes?

O que tenho a dizer, gostem ou não os de um lado e de outro, é que Fernando Lugo caiu porque não era do ramo. Ali, onde os políticos viram casaca por qualquer meia pataca (os nossos cobram mais), o exercício institucional do poder é uma deplorável obra de ficção.

Quem decide mesmo é a máfia que Lugo tolerou porque não tem o sangue dos guerreiros do passado. Essa máfia, para variar, é multinacional e tem muito mais dotes do que os quartéis de pés descalços, que, tanto como os políticos, estão nas folhas da jogatina, do contrabando e do tráfico de drogas.

Resta saber só se esse estrago será restrito como coisa do Paraguai ou se vai animar os canalhas de outras plagas