Alexandre Dumas, romancista francês,
autor de “Os Três
Mosqueteiros”
Anote aí: muito em breve, o regime público de
aposentadorias e pensões será reduzido ao que não puder
ser eliminado. E para os lobistas da previdência privada tudo pode
ser eliminado, desde que a opinião pública seja induzida a acreditar que
aposentados e pensionistas são os
sanguessugas dos cofres públicos, como se suas contribuições por toda a vida não
cobrissem as despesas que dão quando se tornam
inativos.
Veja quanto cinismo: se o marido trabalha e a mulher, não – da sua
contribuição poderia sair o dinheiro da
pensão. Mas se o outro também trabalha e também contribui, aí no caso da morte
de um e de sua aposentadoria teria que optar por um dos benefícios.Qualquer
aluno do primário sabe que essa matemática é fajuta.
Não é um argumento sério, não é uma “solução” lógica,
mas é o jeito mais hipócrita de levar os brasileiros a engrossarem os fundos
privados complementares, que de tanto faturarem vão transformar em complementar
a previdência pública.
O diabo é que quando se fala em garfar benefícios de
aposentados, os da ativa pensam que isso
não lhes diz respeito. E, ironicamente, serão eles os grandes perdedores,
aqueles que terão de pagar duas previdências, como já acontece com 40 milhões
de brasileiros que pagam impostos para a saúde e, ao mesmo tempo, morrem numa
grana preta nos planos privados.
O discurso de que é preciso refazer as contas da
previdência pública vem numa escalada voraz. No fundo, no fundo, tudo o que se
quer é carrear contribuintes para os fundos privados, que atraem quem quer viver
com mínimo de dignidade na velhice, cobrando taxas administrativas
exorbitantes.
É
como se tudo tivesse sido negociado. E foi.
A destruição da previdência pública será engolida pelas lideranças classistas
com a promessa de que o governo facilitará a criação de sistemas próprios nos
sindicatos e, principalmente, nas centrais sindicais, à semelhança do que
acontece nos Estados Unidos, onde a máfia controla poderosas centrais, como a
dos transportes, através dos seus planos de
aposentadoria.
A
memória curta é uma praga que faz a festa dos especuladores. Poucos se lembram das arapucas montadas
durante o regime militar. Milhões de brasileiros foram induzidos a comprar
planos de entidades como Montepio da Família Militar, Capemi, Goboex e outros
que usavam o lastro dos quartéis para oferecerem aposentadorias mirabolantes aos
incautos. E olha que naquele tempo não havia a desculpa do suposto déficit
previdenciário. Antes, pelo contrário: robusta, a Previdência mandou dinheiro
para a construção de Itaipu e da Ponte Rio-Niterói, entre outras generosidades
que agora sobram pra gente pagar.
Hoje o
mote é culpar os idosos porque estão vivendo mais. Na impossibilidade de
declarar mortos os maiores de 70 anos, ou de executá-los pelo crime de “durarem
mais da conta”, os matemáticos de encomenda acenam com o risco de falência da
Previdência Pública se não reduzirem seus benefícios, nivelando os aposentados
por baixo ao salário mínimo e extinguindo as
pensões.
A tendência é reduzir ao mínimo os benefícios
previdenciários, gerando mais uma bitributação para as classes assalariadas, que
passam a poupar diretamente nos planos de previdência privada. Esta passou a ser
o filé mignon dos bancos, porque numa primeira fase só representa faturamento.